segunda-feira, 9 de abril de 2012

SÍNTESE CONCRETA DA UTOPIA¹

por Conceição Freitas

Ele é elegante e despojado, sólido e leve, residencial e público, requintado e simples. Assim, o jornalista, cronista e professor universitário Severino Francisco adjetiva, com precisão, a casa onde hoje mora a presidente Dilma Roussef. A obra mereceu o recém-lançado Palácio da Alvorada, majestosamente simples, lançado anteontem no Museu da República. 


Os adjetivos são muitos, mas ainda não poucos. A obra-prima de Oscar Niemeyer tem "qualidade estética" e "significado civilizacional" que o mundo ainda não conseguiu entender, escreve Severino Francisco, a partir de entrevista com Cláudio Queiroz, professor de arquitetura da UnB."Ela (a obra) é representativa de nossa condição de brasileiros, mestiços, multiculturais. É o marco de uma nova civilização moderna", continua Queiroz. 


O Palácio da Alvorada tem a pureza de Mies Van der Rohe e a poética de Le Corbusier, mas não tem o peso desse nem a frieza daquele, observa, ainda, Cláudio Queiroz. O Alvorada tem as curvas que surpreenderam o mundo. A curva é o jeito brasileiro de se desviar de um obstáculo, e de não enfrentá-lo. As colunas do Palácio da Alvorada são a representação da multiculturalidade brasileira. Não mais as colunas da arquitetura clássica grega, mas uma outra, delgada e de quadris largos. 

O professor da UnB lembra que em Nova York, onde o multiculturalismo é tão apregoado, os sino-americanos, ítalo-americanos, nipo-americanos, hispano-americanos vivem em guetos. No Brasil, não existe essa separação. "Nós somos a utopia deles. Nós já somos multiculturais. E o multiculturalismo se desoculta nestas colunas do Palácio da Alvorada. Elas são um atestado de uma nova civilização", diz Queiroz.


O diretor do Iphan/DF, Alfredo Gastal, reforça essa interpretação: o Alvorada lembra uma casa grande e, portanto, tem a mão do branco, do negro e do índio. Niemeyer é requintado e simples no Alvorada. "Embora utilize mármore e latão brilhante, tudo é colocado de uma maneira singela e incorporado ao espaço de uma forma absolutamente natural", escreve Severino. O que costuma causar um mesmo efeito nos visitantes estrangeiros, espantados com a composição majestosamente simples e acolhedora.


A joia diáfana da arquitetura moderna brasileira foi muito pouco entendida e admirada pelos presidentes que a habitaram. Jânio, o sucessor de Juscelino, odiava Brasília e a solidão do Planalto Central. A mulher de Jango, Tereza Goulart, reclamava da falta de privacidade da piscina. Castelo Branco, o primeiro presidente da ditadura de 64, achava o palácio monumental demais. Garrastazu Médici passava os fins de semana, com a família, na Granja do Riacho Fundo. Geisel gostava da imponência do palácio. Figueiredo logo se mudou para Granja do Torto. Collor preferiu a alegórica Casa da Dinda.


Os dois últimos presidentes, FHC e Lula, e a presidente Dilma devolveram ao Alvorada o reconhecimento e os cuidados que ele merece. O livro de Severino Francisco reforça, com vontade, o lugar da obra-prima de Niemeyer na representação da identidade brasileira. 

 
Interessados no livro devem ligar para  55(61) 3321-9922. 

______________________________________________________
FONTE: Blog da Conceiçãohttp://www.dzai.com.br/blogdaconceicao/blog/blogdaconceicao?pag=5 ), 11.12.2011.

Nenhum comentário:

Postar um comentário