segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

CANTE LÁ, QUE EU CANTO CÁ¹

Poeta, cantô da rua,
Que na cidade nasceu,
Cante a cidade que é sua,
Que eu canto o sertão que é meu.
(...)
Você teve inducação
Aprendeu munta ciença,
Mas das coisa do sertão
Não tem boa esperiença.
Nunca fez uma paioça,
Nunca trabaiou na roça,
Não pode conhecê bem,
Pois nesta penosa vida,
Só quem provou da comida
Sabe o gosto que ela tem.
(...)
Repare que a minha vida
É deferente da sua.
A sua rima pulida
Nasceu no salão da rua.
Já eu sou bem deferente,
Meu verso é como a simente
Que nasce inriba do chão;
Não tenho estudo nem arte,
A minha rima faz parte
Das obra da criação.
(...)
Seu verso é uma mistura,
É um tá sarapaté,
Que quem tem poça leitura,
Lê, mais não sabe o que é.
Tem tanta coisa incantada,
Tanta deusa, tanta fada,
Tanto mistério e condão
E ôtros negoço impossive.
Eu canto as coisa visive
Do meu querido sertão.


[1] PATATIVA DO ASSARÉ. Cante lá que eu canto cá. Petrópolis, RJ: Vozes, 1978.

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